As maos desapareceram no vento. A cor da pele misturou-se com a noite, estrelas adormeceram nos tristes olhos afogados nas embarcacoes de viagem sem retorno, vidas como bilhetes de passagens. Destino incerto nas aguas turvas, corpos marcados, tratados como propriedades, familias separadas, leiloadas a sombra do chicote. Meu irmao partiu, nao ficou um adeus, minha mae escondeu as lagrimas, meu pai desapareceu na escuridao, homens armados assim o levaram.
Canto a liberdade para esquecer a saudade. O passado ficou do outro lado da margem, como uma casa vazia. Os dias nao terminam, as noites sao curtas, no chao o meu corpo deitado, amargo, dorido, ferido, atado a corrente da escravidao. Sem identidade, destruido por dentro como as aldeias que
ficaram do outro lado do oceano.
Eu vivo a vida a merce de castigos que me ferem a alma, despojado de
dignidade. Manto de dor que me cega, mergulho no silencio e no consentimento de que um dia volte a voar como os passaros da minha planicie
(foto retirada da net)
Eu sou escravo do meu corpo, da minha vida que nao me pertence, tendo nas correntes o terco de sobrevivencia. Humildemente interrogo-me, sem resposta deixo-me ficar, pedindo a morte que me tire do sufoco, da humilhacao.
Do castigo, por respirar, por ser diferente, por ser nada e tudo aos olhos de quem me tem nas masmorras da solidao. O eco da revolta semea em mim raizes da liberdade.
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